quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Atenção!

Se preocupar é um mecanismo de sobrevivência. Se andássemos por aí, vivendo a nossa vida livre e leve e solta, sem um pingo de preocupação, com certeza estaríamos mortos na primeira rua movimentada que tívessemos que atravessar. Também já é lugar comum dizer que a vida moderna é um lixo e só faz aumentar o stress do dia a dia. O mal do nosso século não é a peste, são problemas causados pela velocidade do mundo, que causa uma grande falta de estabilidade mental nas pessoas.

Eu tenho 23 anos, sou do sexo feminino, estudo jornalismo e sofro de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG, de agora em diante). A primeira vez que escutei falar que a nossa cabeça podia ser cruel com o nosso corpo foi no primário, quando tive uma aula sobre os diferentes níveis de stress e quais seus sintômas. O final assustador era que a preocupação pode nos matar. Naquela época eu não imaginava que sentiria na pele tudo o que estava sendo explicado. Eu nunca fui uma pessoa muito calma (apesar de, num primeiro momento, a maioria das pessoas acharem exatamente isso!), mas também não sabia o que era um ataque de pânico até os meus 21 anos. Na verdade, eu sabia sim. O que eu não sabia era que tinha esse nome. 

Não consigo me lembrar quando foi a primeira vez que fiquei acordada durante a noite, com o corpo inteiro dolorido e tremendo, morrendo de medo de que, se dormisse, iria morrer. Não era medo, era uma certeza. Uma certeza tão grande que eu precisava, às vezes, me sentar na cama para me convencer de que ainda tinha controle sobre o meu corpo. Isso aconteceu durante muitas noites por algum tempo, mas nunca durante os dias. Eu esquecia logo que acordava, sã e salva, e só ia lembrar na hora de deitar, quando a história se repetia. Também tinha dores de cabeça estranhas (que hoje, eu sei, era por conta da ansiedade), e sociabilidade sempre foi difícil pra mim. Mas nada que fosse fora do comum, ou que eu não conseguisse lidar (também sei que poderia ter cuidado desses problemas antes, se tivesse conversado com alguém sobre o medo de morrer no próximo segundo que eu sentia todas as noites).

Mas a verdade é que, como já disse, foi só aos 21 anos que comecei a ter problemas sérios. Primeiro foi o meu estômago (que nunca foi muito bom), depois as minhas costas, a minha cabeça, até que minhas mãos e pés começaram a tremer e gelar ao mesmo tempo que meu corpo suava, também tive crises de apnéia onde eu tinha certeza de que iria parar de respirar no próximo minuto. Os temores noturnos voltaram e eu não conseguia dormir, achando que ia morrer ou que estava com uma doença grave ou que estava ficando maluca (frequentemente, as três opções ao mesmo tempo). E eu nunca ia ao pronto socorro e contava exatamente todos esses sintômas, então acabei tomando mais soro para o estômago do que deveria e fiz várias seções de RPG e fisioterapia. A coisa começou a piorar ainda mais e eu fiquei quase que incapacitada de andar de carro sem achar que ia parar de respirar. Comecei a ter medo de andar sozinha na rua. Foi só quando não estava mais aguentando viver daquele jeito que abri o jogo para a minha família e contei o que estava acontecendo comigo. Naquela altura, eu já imaginava que eram ataques de pânico o que eu sentia e também sabia que eles estavam cada vez piores e mais frequentes. Aliás, se tem uma coisa que eu não desejo nem para meu pior inimigo, é viver com a expectativa de quando você vai ter um ataque de pânico. Acho que isso é pior do que o próprio pânico (ou não). 

Pra encurtar a história, depois de ir ao pronto socorro e fazer uma bateria de exames cardíacos para descartar qualquer doença, fui diagnosticada com TAG e estou há dois anos lutando conscientemente contra isso (sem saber que era isso o que eu tinha, já perdi a conta!). Não é fácil. Qualquer mudança que acontece na minha vida é como se um copo d'água se transformasse numa tempestade. Me preocupo com tudo, desde as coisas mais idiotas até as mais importantes. Ás vezes eu me preocupo com nada. Meu corpo quase não sabe o que é relaxar. Estou sempre em estado de alerta. Sabe quando a gente precisa atravessar a rua, que olha dos dois lados com atenção redobrada, pois se vier um carro bem na hora que estamos passando já era? Então, eu fico assim o tempo todo. Fiquei um ano e meio sem tomar qualquer tipo de remédios, só me controlando sozinha, mas a minha situação ficou insustentável num certo momento e agora, depois de muito lutar contra isso, estou tomando remédio. Faz algum tempo que não tenho ataques de pânico. Mas ainda vivo na expectativa de que eles possam voltar. Tenho fases: às vezes consigo me controlar, outras vezes parece que assisto meu corpo como se fosse uma simples expectadora.

Eu me sinto como uma bomba relógio, e é difícil relaxar quando se está prestes a explodir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário